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Recentemente um amigo meu me contou que faria uma apresentação sobre suicídio.
Conversa vai, conversa vem…
E eu decidi deixar a minha opinião:
” – Bem, eu não acho que falar de suicídio possa fazer algo além de estimular…dar ideias… É tipo falar mal do Bolsonaro, quanto mais você fala, mais eleitores aparecem.”
” – Amanda, eu concordo em partes. Assim como é importante falar do Bolsonaro, é importante falar sobre suicídio pra conscientização. Mas concordo que publicidade negativa também é publicidade.”
Sem dúvida era exatamente sobre aquilo que eu estava pensando: publicidade boa ou ruim é sempre publicidade.
Fiquei pensando tanto sobre o tema que, depois de ler alguns artigos e repensar meu posicionamento, enfim decidi escrever.
Suicídio é um grande tabu em nossa sociedade. Na maioria das culturas e religiões, é algo inaceitável.
As pessoas não estão preparadas para falar sobre a morte, muito menos sobre a ”morte voluntária”.
Calar não é resolver
Pense bem…será que silenciar o assunto fará com que as pessoas parem de cogitar o suicídio como ”solução”?
A resposta é “não”
Definitivamente, silenciar não resolve.
Enfim, rompendo completamente com o meu pensamento anterior – afinal evoluímos constantemente – afirmo que falar sobre o tema pode ser a única forma de diminuir as taxas de suicídio.
Atualmente a tecnologia faz com que tudo pareça mais próximo.
As pessoas se sentem mais próximas de outras através do whatsapp, facebook, skype…
e isso não tem nenhum problema, afinal a tecnologia serve para encurtar caminhos.
Mas será que essa proximidade virtual condiz com a proximidade afetiva?
Será que as pessoas se sentem confortáveis em compartilhar mais do que memes, conversas banais e assuntos de política?
Se o que me preocupava antes era a forma como o assunto se espalhava e podia vir a estimular as pessoas, passei a me preocupar mais ainda com o silêncio das pessoas que sofrem diariamente por conta da depressão e não têm forças para falar ou não possuem uma rede de apoio.
Então: precisamos mais do que nunca falar sobre suicídio, falar sobre depressão e nos colocarmos como uma boa rede de apoio à quem precisa.
Porém: a publicidade do suicídio é, de fato, um problema e pode vir a “encorajar” muitas pessoas.
O Efeito Werther
Um rapaz conhece o amor de sua vida, uma moça chamada Charlotte.
Meiga, delicada, educada, amável, Charlotte tinha os mesmos interesses que ele.
Além de atenciosa, culta e agradável, a sua voz era macia e confortável. Ao seu lado, o rapaz vivia um sonho.
Mas nem tudo são flores: o rapaz, chamado Werther, descobre que aquela mulher encantadora está comprometida com outro homem.
Charlotte era o sentido da vida do jovem Werther…
Tenho tanto! E o sentimento que tenho por ela devora tudo. Tenho tanta coisa, mas sem ela tudo para mim é como se nada existisse.
Seu mundo desaba, ele fica desconsolado, afinal, como disse Camus em O Mito de Sísifo, o homem que já teve sentido para viver sofre muito mais do que aquele que nunca teve um.
O final – levando em consideração o assunto do post – já é de se imaginar:
Werther comete suicídio por causa de um amor não correspondido.
Ok, atualmente pode parecer algo bobo. Um problema infantil.
Mas essa história, chamada ” Os Sofrimentos do Jovem Werther” , foi responsável por uma assustadora onda de suicídios de jovens no ano de 1774.
Foi algo tão impactante que virou até um fenômeno: O Efeito Werther.
A romantização do suicídio
O efeito Werther acontece quando alguma celebridade comete suicídio e, com isso, acaba influenciando os seus fãs a seguirem o mesmo caminho.
Assim como falei do efeito framing no post anterior, aqui também conseguimos encontrar o efeito do enquadramento.
A mídia mostra uma história romantizada onde uma sucessão de tristezas apesar de qualquer coisa – termina em suicídio.
O suicídio na mídia já costuma ser transmitido com glamour, e se for uma celebridade com a qual nos identificamos, ai que a nossa tendência é mesmo romantizar todo o quadro.
Celebridades como Kurt Cobain e Marilyn Monroe após suas mortes também causaram o efeito Werther.
Sem dúvidas, o maior exemplo de romantização do tema suicídio e seus efeitos não poderia ser outro senão a história do Jovem Werther.
Embora em momento algum o autor quisesse promover a ideia do suicídio, ele não deixou o ar de Romance sair da história – característica forte do autor.
Sem dúvida, são exatamente as emoções fortes que contribuem para uma mudança de percepção – para o bem ou para o mal.
Como falar sobre suicídio?
Para concluir:
- Precisamos, sim, falar sobre suicídio, MAS com todo cuidado para que a nossa comunicação não venha glamourizar ou banalizar o assunto.
- E muito além de falar e buscar conscientizar os outros a respeito do tema, é importante observar mais as pessoas ao nosso redor e buscar apoia-las sempre. Uma pessoa que está com depressão precisa – acima de tudo – de uma forte rede de apoio.